Minhas vistas parecem embaçadas devido ao vento forte que
atravessa meu rosto sem piedade. Eu sei que ele, mesmo ao meu lado, mantém-se
distante, com os pensamentos em algo qualquer, algo puramente egocêntrico,
ainda que minha feição se encontre isolada de qualquer gentileza. Há vestígios
de insensibilidade em seus olhos, agora, dilatados. Justin presta atenção na
estrada, sabe que qualquer distração pode causar-nos estragos.
Tenho coragem e arranco do fundo da minha garganta, meu tom mais
forte e sério, dizendo as seguintes palavras:
— Nunca mais faça isso. — Justin, mesmo um pouco desatento a
mim, rola suas pupilas, apertando-as no canto de seus olhos desmanchados,
causado pelo clima intenso.
— Fazer o quê? — eu o olho agora, totalmente indignada, questionando-me
o que acontecera há poucos minutos.
— Você me envergonhou. — falo alto, as meninas me olham. — Você
gritou comigo na frente de todos os seus amigos. — ressalto a situação, sabendo
que Justin não dá meia importância a minha opinião.
— Hm. — ele é amargo.
Justin
trava o maxilar, abre as palmas por cima do volante e balança os dedos; cada um
deles.
— Devo pedir desculpas por ter feito o meu papel de homem?
— Papel de homem? Qual é o seu problema, Justin? — sôo abismada.
Sua resposta fora tão ridícula assim como todo o show enquanto estivemos no
apartamento de Ashley.
— O meu problema é que eu vi um cara flertando com a minha
mulher. — de repente ele me olha, mas não dura por muito tempo.
— Oh! É isso? Esse foi o motivo pelo qual você me constrangeu? —
o louro ri esnobe, como se não estivesse acreditando bem em nossa conversa. Por
outro lado, nem eu mesma creio nisto. — Só estávamos conversando.
— Claro, porque você simplesmente não pode conversar comigo.
— Meu Deus, Justin, eu estava sendo gentil.
— Eu quero saber... Desde quando vocês são amigos?
— Não somos amigos. — falo alto, as meninas se espremem nas
cadeirinhas, eu, às vezes, as olho por trás do banco em que estou.
— Ah, porque pelo o que eu vi, pareciam muito íntimos. — olho
para o lado, dando atenção ao jogo de luzes presos sobre os enormes
arranha-céus.
— Não vou conversar com você, não agora. — evidencio meu tom
angustiado, mas que ao mesmo tempo, demonstra insensatez.
— Claro, eu não sou o Nick, certo? — ignoro-o.
Desde o início, eu soube que Justin tinha um lado arrogante.
Apesar de sempre estarmos distantes, nunca deixamos de brigar de tal forma.
Para ser mais clara, levando em consideração todos os anos passados, brigamos
por exatamente tudo e todos. Quando não se passa fisicamente, com a presença de
ambos, soa por telefonemas. É algo que sempre se resolve quando um cede, e para
ser sincera, isso era quase impossível de acontecer.
No início dos tempos em que estivemos juntos, eu era aquela que sentava
sobre a cama e pedia desculpas, ainda que não estivesse errada. Conforme os anos
se passaram, eu me tornei aquela que senta sobre a cama e espera um pedido de
desculpas.
Nunca, nunca e nunca dormimos brigados, foi um acordo, que
agora, nesse momento, espero que permaneça de pé.
Abro a porta do carro após senti-lo estacionar.
Num ato rápido, recolhe ambas as garotas, trazendo-as comigo.
Elas caminham rapidamente ao meu lado, perguntando, bem baixinho, se algo está
errado. Em momento algum abro a boca, pois sinto que, de certa forma, não quero
começar uma briga, eu quero apenas que ele sente-se ao meu lado e diga algo
além de meras palavras hostis.
Abro a porta, caminho em direção à escada, mas antes de
conseguir subi-la, correr para o meu quarto, sua mão aperta meu braço,
trazendo-me de volta ao chão, fora de um dos degraus.
— Sky, vá para o quarto com Hope e não saia de lá. — ele fala me
olhando, trajando algo estranho por cima de ambos os corpos, um de frente para
o outro. — E agora? Você quer conversar ou vai fugir como sempre faz?
— Mamãe... — Hope sussurra, mas Sky puxa sua mão, arrasta a
garotinha para o segundo piso. Ela nunca questiona Justin, não quando o vê de
tal maneira.
— Eu não quero brigar, Justin. — eu falo alto o suficiente para
fazê-lo engolir o seco e me puxar. Nós fomos em direção à sala, ele não está se
importando com o que eu quero. — O que você quer que eu te diga? — questiono-o
confusa, porém Justin ri, eu odeio a forma como ele me olha agora.
— Eu quero que você me explique... — ele cruza seus braços,
respira fundo, eu pareço mais vulnerável agora e não digo nada. — Tudo bem, nós
temos toda a noite. Não tenho pressa alguma.
— Justin... — eu tento argumentar, mas ele consegue me
interromper antes.
— Por que você não me contou que se tornou amiga daquele cara?
— Eu não sou amiga dele, Justin, temos apenas amigos em comuns.
— Pelo o que eu vi, não são apenas amigos em comuns que vocês
têm. — ele é sarcástico, agora eu abro minha boca surpresa. — Você escondeu de
mim.
— Da mesma forma que você escondeu de mim que saiu para beber
com a sua ex-namorada?
Seus olhos vão se abrindo mais e mais, até conseguirem me deixar
irritada devido à falta de palavras em que Justin se encontra neste momento.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. — ele mente, porque,
para mim, ambas as coisas estão no mesmo nível.
Rio irônica e, dessa vez, eu quem cruzo meus braços.
Tento atravessar seu corpo, tenho a intenção de sair de sua
frente, porém, novamente, ele é mais rápido. Justin pega em meu braço outra
vez, puxando-me com força. Meu corpo sofre um movimento tão brusco que sinto
uma singela dor na boca do meu estômago.
— Você sempre faz isso, sempre fica tentando correr das nossas
discussões.
— Eu só não quero brigar com você. — eu explico.
— Eu não sei se você reparou, mas já estamos brigando. Então,
pare de agir como uma idiota e converse comigo direito.
Minha respiração se converte de aflita, à desesperada.
— Então, me explique, Justin... O que é que você estava fazendo
com ela? — pergunto baixinho, evidenciando minha frustração. — E por que você
me escondeu isso?
— Porque eu sabia como você iria reagir, Selena, eu sabia
exatamente qual seria sua reação diante disso.
— Da mesma maneira que você reagiu quando me viu conversando com
o Nick? Porque diferente de você, eu jamais faria aquilo. Na verdade, eu estava
esperando que me contasse, mas você não o fez e nem pensou em fazer.
— Aquilo não é e nem foi importante, Selena, eu apenas a vi.
— Eu pouco me importo. — balanço meu ombro e, novamente, tento
livrar-me do assunto, mas, novamente, ele me puxa. — Me deixe em paz, Justin,
eu não quero saber da sua arrogância hoje, tá legal? Por favor, não toque em
mim. — me solto de sua mão, mas não ajo de maneira rápida, entretanto, ele vira
as costas, coloca as mãos sobre os cabelos e mexe em cada fio. Mesmo com a
chance de sair, eu permaneço ali, olhando-o. — Qual é o seu problema, afinal?
— O meu problema é você. — quase grita, seu timbre é cercado por
seriedade. Seu corpo se vira, ele parece descontrolado. — Eu não quero ter em
mente que a minha mulher fica de conversa com outro cara.
— Ele tem uma namorada. — meu tom também é alto, mas Justin
gargalha.
— Eu não sei se você é realmente ingênua, ou só se faz.
— Você tem noção do quão ridículo soa suas palavras? — a saliva
escorrega calmamente por minha garganta, eu sinto meus olhos tremerem devido ao
choro preso. Mas não choro, nem ao menos pisco, para evitar que a lágrima
deslize delicadamente pelo meu rosto. — Eu espero, realmente, que você esteja
escutando tudo o que está me dizendo essa noite. — ele não diz nada, espera com
que eu continue. — Você nos arrastou de um jantar. — lembro-o. — Seu melhor
amigo iria dizer que vai se casar, mas você não fez questão de estar lá, porque
viu uma coisa que não existe.
— Não fiz mesmo. — Justin não demonstrar nem ao menos tentar
revidar meu tom baixo, eu nunca fui muito além de uma palavra elevada num
timbre tão alto. — Você acha mesmo que eu me importo com isso, quando, enquanto
eu estou distante, vejo um carinha dando em cima de você?
— Ele não estava dando em cima de mim. — Justin aproxima seu
rosto, deixa-o ao lado de minha orelha esquerda. Num tom baixo, diz:
— Eu não sou idiota. — e ri.
Empurro seu corpo com força, ele se afasta por conta do meu ato
rude.
— Quer saber, não vou continuar esse assunto. Esqueça aquilo de
não dormirmos brigados um com o outro.
— Não, você vai terminar essa conversa sim. — ele, pela terceira
vez, agarra meu pulso e me puxa, só que, diferente das primeiras, eu sinto uma
dor avulsa pregar à área onde seu contato físico permanece.
— Você é sim um idiota. — cuspo as palavras de maneira hostil,
subindo meu rosto, arrebitando o nariz e dobrando meus ambos os lábios.
— É... Eu realmente devo ser... Afinal, eu não faço à mínima
ideia do que você fica fazendo aqui enquanto estou viajando.
Isso soa tão ofensivo que minha boca se abre aos poucos. O
contato visual não é cortado em segundo algum, eu estou ocupada demais o
perguntando, mentalmente, por que acabara de dizer algo como isso.
— E-eu... — gaguejo, não sei o que respondê-lo. — Eu não
acredito que você disse isso. — Justin me olha um pouco abatido, sua feição não
é mais ameaçadora, ele parece se arrepender.
De repente, com a pouca sensatez que me resta, soco seu busto
após livrar meus pulsos de suas mãos fortes. Meus punhos estão fechados, eu os
aperto a cada vez mais, sinto meus olhos marejarem no mesmo segundo, minhas
pernas bambeiam. Justin segura meus pulsos outra vez, jogando-os para cima,
travando meu corpo à frente do seu. Ele me olha em silêncio, eu estou chorando,
não posso evitar e soa de maneira tão alta.
Justin me empurra, eu caio sobre o sofá e sinto o choro se
intensificar.
— Mamãe... — a voz de Sky me desperta, mas eu não a olho. — Por
favor, não briguem. Papai, não brigue com ela. — ela implora. Hope chora alto,
Sky tenta não fazer o mesmo, mas é impossível. Elas já estão na metade da
escadaria.
— O que eu faço aqui? — pergunto mais para mim do que para
Justin. Tento ignorar as meninas. — Todos os dias eu acordo cedo, dou comida às
nossas filhas, levo-as à escolinha e passo o resto da tarde sozinha. Depois eu
as busco, conto histórias a elas e as faço dormir. E à noite, eu te ligo e digo
que te amo apenas para que não haja dúvidas sobre isso. É isso o que eu fico
fazendo aqui enquanto você está viajando. Agora me diga, o que você faz lá? —
me levanto rapidamente, o choro de Hope aumenta a cada segundo mais. — Você
trabalha o dia inteiro, mas quando acaba, se tranca no quarto do hotel e fica o
resto da noite jogando a droga do seu videogame? Porque é tudo o que você faz
aqui quando chega... Ah, mas eu acho que isso é algo relativo, certo? — ele não
responde, nem ao menos tenta me dizer algo a respeito de todas as coisas que
ousei falar. — Eu não tenho amigos além dos seus, Justin, eu não faço nada além
de tentar ser uma boa mulher para você.
— SABE O QUE EU FICO FAZENDO NA PORCARIA DOS MEUS DIAS? — ele
grita, eu me assusto com a forma que me olha agora. Hope e Sky correm em nossa
direção. Elas puxam a blusa de Justin, mas ele não tenta olhá-las, nem ao menos
quer fazer isso. — EU ACORDO TODOS OS DIAS ÀS CINCO HORAS DA MANHÃ E SÓ CHEGO
ÀS OITO DA NOITE. EU FICO TODOS OS DIAS ME MATANDO PARA PODER DAR DO MELHOR
PARA VOCÊS E VOCÊ ESTÁ INSINUANDO QUE EU TE TRAIO? É ISSO? — não o respondo,
não quero olhá-lo, por isso, encaro o chão por baixo de nós dois. — OLHE PARA
MIM, SELENA. — exije, mas eu tento sair de sua frente, as garotas gritam
assustadas.
— Mamãe... — Hope chora, ela abraça Sky logo em seguida.
Justin aperta meus braços, eu o olho agora.
— Olhe no fundo dos meus olhos e me responda... Você acha que eu
te traio?
Demoro um pouco para responder. Mas, com um tom medonho, grito:
— EU NÃO DISSE ISSO! — apertando meus olhos e sentindo minha
barriga doer, me controlo para não desabar agora.
— Eu sei muito bem o que você quis dizer. — Justin me solta, meu
corpo cai no sofá outra vez.
Ele gira seus calcanhares e segue em direção à porta.
— Justin... — falo alto, eu sei que ele me ouve. — Justin! — tento
outra vez, mas perco a voz quando o vejo abrir a porta e passar por ela sem se
importar com meus chamados.
E eu vejo, como um flashback, a mesma cena de anos atrás, quando
ele me deixou sozinha no meio da noite.
Descontrolada, eu desabo finalmente. As garotas correm em minha
direção, seus bracinhos apertam meu corpo, elas me abraçam enquanto, também,
choram.
— Mamãe, por favor, não chora. — Sky pede entre soluços, soa tão
meigo. — Se você chorar, eu choro também.
— Tudo bem, fiquem calmas... — eu peço e passo as mãos sobre o
rostinho de ambas as garotinhas. — Vai ficar tudo bem, ok? — tento sorrir, elas
balançam a cabeça.
— Por que o papai saiu? — questiona-me Hope, jogando seu corpo
em mim, me abraçando novamente.
— Papai só foi tomar um pouco de ar, minha princesa... Ele vai
voltar depois. — seus dedinhos seguem em direção de minhas pálpebras inchadas
pelo choro. Ela as limpa e eu vejo seus olhos brilharem devido às lágrimas
presas. — Vocês estão com fome? Que tal pedirmos uma pizza? — tento amenizar a
situação.
— Eu adoro pizza. — Sky diz já animada.
Elas correm até a cozinha, enquanto eu encaro a porta fechada,
esperando que ele volte, mas ele não o faz. Portanto, sibilo alto, passo as
costas de ambas as minhas mãos no rosto e respiro fundo, prendendo o choro no
fundo mais distante de mim.
Sigo até a cozinha. Minha pequena lourinha está na ponta dos pés
com o telefone em suas mãos, enquanto encara um ímã preso à geladeira. Nele há o
número da melhor pizzaria do bairro.
Justin Bieber POV.
08h37min PM.
08h37min PM.
Antes de adentrar ao estabelecimento, encaro a rua um pouco
vazia. Durante a trajetória, pensei em ligar para Ryan, mas hesitei quando
pensei no quão estúpido fui por não ter esperado a notícia que ele planejava
nos dar.
Meus passos sãos lentos, eu penso em voltar para casa, mas
quando tenho a intenção de girar meu corpo e voltar para o lugar em que deixei
meu carro estacionado, uma voz conhecida profere por meu nome. Eu engulo o seco
e viro meu rosto à direita, tendo a visão de uma mesa ao lado da vidraça
aberta. Eles estão sorrindo, eu só consigo coçar a nuca e me aproximar, mesmo
tendo o pensamento de ir para casa segundo atrás.
— Quem é vivo sempre aparece. — a voz de Alfredo fala com uma
pitada de animação, seu sorriso está largo, ele se levanta assim como os
demais. — Que bom te ver, Justin.
— Quanto tempo, cara. — eu digo e forço um sorriso, resmungando
baixinho logo depois de fazermos um toque antigo. Isso se repete quando
cumprimento Dylan, Austin e Cody. Eu abraço Kylie, Kendall e Hailey,
sentando-me, depois de alguns minutos, ao lado da única loura que há entre
eles.
— Então, como vão as coisas? — Dylan ainda tem o mesmo tom fino
de voz. Ele sempre foi zombado por isso.
— Está tudo bem... — eu não hesitei, pois não penso em falar
sobre a briga a quão acabei de finalizar. — Mas e vocês? Como estão vocês? — eu
me animo um pouco, vendo Kylie servir vinho em uma taça; ela entrega a mim.
— Nós viemos apenas para passeio mesmo. — Austin me responde
enquanto abocanha a porção de batatas frita. — Telefonei para Kendall e ela
propôs que nos encontrássemos.
— Mas confesso que não esperava vê-lo por aqui. — Kendall fala
depois de dois segundos. — Fiquei surpresa quando Hailey me contou. — eu olho
para a loura ao meu lado, a mesma sorri gentilmente e beberica seu vinho. Logo
depois eu a sinto apoiar a mão vaga sobre minha perna. Minha respiração fica
perturbada por sentir tal sensação sobre minha pele coberta pela calça jeans
escura.
— Eu disse a eles que nos vimos em um mercado. — ela fala
tentando reconfortar-me, enquanto repara minha feição incomodada. — Disse
também que sua filha é a garota mais linda que já vi.
— Sky deve estar enorme. — Alfredo continua, eu apenas balanço a
cabeça e bebo um pouco do vinho. Hailey aperta minha coxa e eu prendo a respiração
um pouco, querendo relaxar. Mas devido às circunstâncias, eu apenas encaro os
garotos.
— Eu acho engraçado, sabe? — Cody diz algo, finalmente. — Justin
sempre foi o mais sem vergonha do grupo, porém foi o primeiro a arrumar filho. —
todos riem, mas eu não.
— A arrumar filho e a se casar. — Kylie fala humorada, eu sei
que isso é apenas algo esportivo, não devo me incomodar com o assunto... Eu
acho.
— Se eu soubesse sobre isso seis anos atrás, eu teria
engravidado dele há muito tempo. — Hailey brinca, mas eu, num ato ágil, levo
minha mão direita até a sua ainda sobre minha coxa e a retiro no mesmo segundo.
Ela percebe que isso não me agradou nem um pouco.
— Tudo bem, vocês estão caindo na alma do cara hoje. — Alfredo
ri e tenta finalizar o assunto. Eu sei que ele notou minha feição fechada. —
Mas e a Selena? Como ela está? Eu realmente gostava dela. — Hailey desvia o
olhar e encara a vidraça ao seu lado. — Me lembro de quando Sky começou a andar
e nós competíamos por causa dela.
Eu me lembro. Jaden, Ryan, Chaz, Chris e Alfredo brigavam porque
queriam que ela andasse até um deles. No final das contas, ela sempre vinha até
mim.
— Hoje em dia essa menina está sabendo até de onde vêm os bebês.
— todos gargalham, inclusive eu. — É sério, eu estou assustado. — brinco com a
situação cômica.
— Eu espero ter filhos logo. — fala Kendall, ela serve mais um
pouco de vinho em minha taça assim que a vê vazia. Eu virei a mesma sobre a
boca e engoli rapidamente a bebida. — Esse trem de esperar até os trinta não
está com nada. Não posso ser uma mãe tão velha.
— Nós podemos tentar. — Austin fala, há humor em seu tom de voz.
— Nunca. — a morena rebate e joga seus cabelos para o lado. — Eu
quero um pai decente para o meu filho. Se fosse qualquer um, transaria com o
primeiro punheteiro que visse na rua. — rio alto, os garotos também.
As horas foram se passando e quando deram onze e vinte, todos se
levantaram. Havíamos dividido a conta.
Quando saímos do Hibas e paramos à frente do mesmo, começamos a
nos despedir. Quisera eu vê-los outra vez, mas tinha em mente que iriam voltar
para Chicago brevemente. Outra reunião, provavelmente, seria demorada, eu não
estava disposto a colocar tantas expectativas sobre isso. Porém, apesar disso,
foi um bom passatempo, foi bom saber como anda a vida de todos eles. E, no
final das contas, sobraram eu, Hailey, Kylie e Cody, porém o casal se
distanciou, seguindo até um carro vermelho.
— Justin... — eu a olho rapidamente, virando meu rosto para
trás, pois estava indo até meu carro do outro lado da rua. — Eu não quero ser
inconveniente, mas você poderia me levar até o meu apartamento? — ela morde os
lábios, aparenta estar envergonhada, eu não sei, não conheço essa expressão. —
Eu pediria a Kylie, mas eu sei que ela pretende dar uma volta com o Cody. Não
quero atrapalhá-los. — eu engulo o seco e penso, porém antes de responder,
Hailey prossegue. — Mas se não puder, tudo bem, eu pego um táxi.
— Não, tudo bem, eu a levo. — ela sorri grata e caminha em minha
direção. Atravessamos a rua e, quando dou por mim, nos noto dentro do meu carro
abafado, devido ao tempo em que se mantivera fechado. — Você veio de táxi?
— Sim, meu carro foi rebocado essa manhã. — eu rio e ela também.
Logo dou a partida. — Foi um pouco antes de nos encontrarmos no mercado. Eu fui
descuidada e estacionei num local proibido. Verei o que posso fazer amanhã. —
assinto com a cabeça e me mantenho em silêncio, presto atenção na estrada. —
Você mudou muito, Justin.
— Mudei? — pergunto confuso.
— Mudou! — ela afirma rapidamente. — Está mais sério.
— Não. Hoje só não foi um dia tão bom.
— Vocês brigaram? — ela parece ler minha mente. — Pelo visto,
isso não mudou em você. — Hailey ri, mas eu não. — Eu me lembro que sempre que
brigávamos você corria para a rua.
— É. Tenho meus hábitos. Nem todos são bons. — debocho, a loura
não parece se importar.
— À esquerda. — fala. Eu sigo a trajetória. — É tão bom vê-lo de
novo, Justin. É bom saber como anda o cara que eu amo.
— Hailey! — suspiro, eu não quero entrar nesse assunto.
— Eu estou falando a verdade. — seu corpo se mexe por cima do
banco. — Eu cheguei a pensar que nunca mais fosse te ver. Eu sei que você está
com ela, mas o que eu sinto por você não mudou em nada. — eu a olho por alguns
segundos, revezando a atenção à loura e à estrada. O que ela espera que eu
diga? — É no próximo prédio. — balanço a cabeça e paro o carro quando alcanço o
edifício dito por Hailey.
Antes de vê-la sair, ela me encara por dez segundos. Eu me sinto
desconfortável, mas nada digo. E, antes de dizer tchau, Hailey retira o cinto e
diz, numa voz fina e desejável:
— Se quiser, podemos subir e beber algo.
Eu concordo com a cabeça e vejo seu sorriso se alargar.
Descemos do carro e entramos no prédio amarelado.
Subimos o elevador calados. Eu encaro meus pés, enquanto minhas
mãos estão dentro do bolso. O silêncio parece ruim, mas eu não sei o que dizer
nesse momento.
Assim que as portas se abrem, andamos lentamente até o último
apartamento. Eu notei que subimos cinco andares.
— Não repare a bagunça. — ela quebra o gelo entre nós. Sua mão
direita recolhe as chaves dentro do bolso de sua calça justa, Hailey parece
ansiosa por algo, pois eu noto que seu corpo está tremendo.
Quando vejo a porta se abrir aos poucos, encaro o apartamento,
uma vez que eu esteja parado ao lado do batente.
— Pode entra. — sua voz é apossada por malícia, não está tão
explícito, mas eu noto quando observo seus olhos claros; ambos apertados.
Dou um passo, mas antes de adentrar, meu corpo fica imóvel. Eu
cogito algo que acaba me fazendo sentir horrível. E, logo depois, eu penso em
Selena e em como eu a deixei sozinha. Penso no que pode acontecer, caso eu
escolha ficar e só de imaginar isso, eu me sinto culpado, pois eu sei que uma
parte de mim (a mais fraca), quer isso. Então, isso me faz seguir em direção às
palavras que Hailey disse. “Pelo visto,
isso não mudou em você”, não, mas eu estava disposto a mudar.
Durante todo o relacionamento que tive com Hailey, eu a traia
quando a deixava sozinha após nossas brigas. E numa dessas vezes, eu tive a
oportunidade de conhecer Selena. Eu só não posso deixar a mesma idiotice se repetir.
Eu não posso trair Selena.
Portanto, eu dou dois passos para trás e a olho firmemente.
— O que foi? — ela
questiona um pouco assustada.
— Hailey, não me procure mais. — eu sei que ela não havia feito
tal coisa, mas falo, pois quero que ela saiba que não desejo vê-la outra vez. —
Não confunda as coisas. — é minha última palavra, eu vejo seus olhos tremerem,
ela só não quer passar por isso outra vez.
Sua boca se abre aos poucos, ambas as sobrancelhas levantam-se,
mas eu só viro meu corpo, enfio minhas mãos para dentro do bolso e ando em
direção ao elevador. Assim que me enfio para dentro do cubículo, subo meu olhar
e vejo que ela ainda está parada em frente ao seu apartamento. Ela continua me
olhando.
Rapidamente, as portas se fecham. Diferente da forma que eu vim,
não encarei o chão como se algo de ruim me perturbasse. Eu apenas retirei meu celular
do bolso e digitei algo. Sorrio feliz quando deslizo meu polegar na opção
“enviar”. Logo depois, leio alto o que acabara de mandar para ela.
“Você é tudo o que importa para mim.”
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