07/07/2016

Capítulo 22.

Minhas vistas parecem embaçadas devido ao vento forte que atravessa meu rosto sem piedade. Eu sei que ele, mesmo ao meu lado, mantém-se distante, com os pensamentos em algo qualquer, algo puramente egocêntrico, ainda que minha feição se encontre isolada de qualquer gentileza. Há vestígios de insensibilidade em seus olhos, agora, dilatados. Justin presta atenção na estrada, sabe que qualquer distração pode causar-nos estragos.
Tenho coragem e arranco do fundo da minha garganta, meu tom mais forte e sério, dizendo as seguintes palavras:
— Nunca mais faça isso. — Justin, mesmo um pouco desatento a mim, rola suas pupilas, apertando-as no canto de seus olhos desmanchados, causado pelo clima intenso.
— Fazer o quê? — eu o olho agora, totalmente indignada, questionando-me o que acontecera há poucos minutos.
— Você me envergonhou. — falo alto, as meninas me olham. — Você gritou comigo na frente de todos os seus amigos. — ressalto a situação, sabendo que Justin não dá meia importância a minha opinião.
— Hm. — ele é amargo.
Justin trava o maxilar, abre as palmas por cima do volante e balança os dedos; cada um deles.
— Devo pedir desculpas por ter feito o meu papel de homem?
— Papel de homem? Qual é o seu problema, Justin? — sôo abismada. Sua resposta fora tão ridícula assim como todo o show enquanto estivemos no apartamento de Ashley.
— O meu problema é que eu vi um cara flertando com a minha mulher. — de repente ele me olha, mas não dura por muito tempo.
— Oh! É isso? Esse foi o motivo pelo qual você me constrangeu? — o louro ri esnobe, como se não estivesse acreditando bem em nossa conversa. Por outro lado, nem eu mesma creio nisto. — Só estávamos conversando.
— Claro, porque você simplesmente não pode conversar comigo.
— Meu Deus, Justin, eu estava sendo gentil.
— Eu quero saber... Desde quando vocês são amigos?
— Não somos amigos. — falo alto, as meninas se espremem nas cadeirinhas, eu, às vezes, as olho por trás do banco em que estou.
— Ah, porque pelo o que eu vi, pareciam muito íntimos. — olho para o lado, dando atenção ao jogo de luzes presos sobre os enormes arranha-céus.
— Não vou conversar com você, não agora. — evidencio meu tom angustiado, mas que ao mesmo tempo, demonstra insensatez.
— Claro, eu não sou o Nick, certo? — ignoro-o.
Desde o início, eu soube que Justin tinha um lado arrogante. Apesar de sempre estarmos distantes, nunca deixamos de brigar de tal forma. Para ser mais clara, levando em consideração todos os anos passados, brigamos por exatamente tudo e todos. Quando não se passa fisicamente, com a presença de ambos, soa por telefonemas. É algo que sempre se resolve quando um cede, e para ser sincera, isso era quase impossível de acontecer.
No início dos tempos em que estivemos juntos, eu era aquela que sentava sobre a cama e pedia desculpas, ainda que não estivesse errada. Conforme os anos se passaram, eu me tornei aquela que senta sobre a cama e espera um pedido de desculpas.
Nunca, nunca e nunca dormimos brigados, foi um acordo, que agora, nesse momento, espero que permaneça de pé.
Abro a porta do carro após senti-lo estacionar.
Num ato rápido, recolhe ambas as garotas, trazendo-as comigo. Elas caminham rapidamente ao meu lado, perguntando, bem baixinho, se algo está errado. Em momento algum abro a boca, pois sinto que, de certa forma, não quero começar uma briga, eu quero apenas que ele sente-se ao meu lado e diga algo além de meras palavras hostis.
Abro a porta, caminho em direção à escada, mas antes de conseguir subi-la, correr para o meu quarto, sua mão aperta meu braço, trazendo-me de volta ao chão, fora de um dos degraus.
— Sky, vá para o quarto com Hope e não saia de lá. — ele fala me olhando, trajando algo estranho por cima de ambos os corpos, um de frente para o outro. — E agora? Você quer conversar ou vai fugir como sempre faz?
— Mamãe... — Hope sussurra, mas Sky puxa sua mão, arrasta a garotinha para o segundo piso. Ela nunca questiona Justin, não quando o vê de tal maneira.
— Eu não quero brigar, Justin. — eu falo alto o suficiente para fazê-lo engolir o seco e me puxar. Nós fomos em direção à sala, ele não está se importando com o que eu quero. — O que você quer que eu te diga? — questiono-o confusa, porém Justin ri, eu odeio a forma como ele me olha agora.
— Eu quero que você me explique... — ele cruza seus braços, respira fundo, eu pareço mais vulnerável agora e não digo nada. — Tudo bem, nós temos toda a noite. Não tenho pressa alguma.
— Justin... — eu tento argumentar, mas ele consegue me interromper antes.
— Por que você não me contou que se tornou amiga daquele cara?
— Eu não sou amiga dele, Justin, temos apenas amigos em comuns.
— Pelo o que eu vi, não são apenas amigos em comuns que vocês têm. — ele é sarcástico, agora eu abro minha boca surpresa. — Você escondeu de mim.
— Da mesma forma que você escondeu de mim que saiu para beber com a sua ex-namorada?
Seus olhos vão se abrindo mais e mais, até conseguirem me deixar irritada devido à falta de palavras em que Justin se encontra neste momento.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. — ele mente, porque, para mim, ambas as coisas estão no mesmo nível.
Rio irônica e, dessa vez, eu quem cruzo meus braços.
Tento atravessar seu corpo, tenho a intenção de sair de sua frente, porém, novamente, ele é mais rápido. Justin pega em meu braço outra vez, puxando-me com força. Meu corpo sofre um movimento tão brusco que sinto uma singela dor na boca do meu estômago.
— Você sempre faz isso, sempre fica tentando correr das nossas discussões.
— Eu só não quero brigar com você. — eu explico.
— Eu não sei se você reparou, mas já estamos brigando. Então, pare de agir como uma idiota e converse comigo direito.
Minha respiração se converte de aflita, à desesperada.
— Então, me explique, Justin... O que é que você estava fazendo com ela? — pergunto baixinho, evidenciando minha frustração. — E por que você me escondeu isso?
— Porque eu sabia como você iria reagir, Selena, eu sabia exatamente qual seria sua reação diante disso.
— Da mesma maneira que você reagiu quando me viu conversando com o Nick? Porque diferente de você, eu jamais faria aquilo. Na verdade, eu estava esperando que me contasse, mas você não o fez e nem pensou em fazer.
— Aquilo não é e nem foi importante, Selena, eu apenas a vi.
— Eu pouco me importo. — balanço meu ombro e, novamente, tento livrar-me do assunto, mas, novamente, ele me puxa. — Me deixe em paz, Justin, eu não quero saber da sua arrogância hoje, tá legal? Por favor, não toque em mim. — me solto de sua mão, mas não ajo de maneira rápida, entretanto, ele vira as costas, coloca as mãos sobre os cabelos e mexe em cada fio. Mesmo com a chance de sair, eu permaneço ali, olhando-o. — Qual é o seu problema, afinal?
— O meu problema é você. — quase grita, seu timbre é cercado por seriedade. Seu corpo se vira, ele parece descontrolado. — Eu não quero ter em mente que a minha mulher fica de conversa com outro cara.
— Ele tem uma namorada. — meu tom também é alto, mas Justin gargalha.
— Eu não sei se você é realmente ingênua, ou só se faz.
— Você tem noção do quão ridículo soa suas palavras? — a saliva escorrega calmamente por minha garganta, eu sinto meus olhos tremerem devido ao choro preso. Mas não choro, nem ao menos pisco, para evitar que a lágrima deslize delicadamente pelo meu rosto. — Eu espero, realmente, que você esteja escutando tudo o que está me dizendo essa noite. — ele não diz nada, espera com que eu continue. — Você nos arrastou de um jantar. — lembro-o. — Seu melhor amigo iria dizer que vai se casar, mas você não fez questão de estar lá, porque viu uma coisa que não existe.
— Não fiz mesmo. — Justin não demonstrar nem ao menos tentar revidar meu tom baixo, eu nunca fui muito além de uma palavra elevada num timbre tão alto. — Você acha mesmo que eu me importo com isso, quando, enquanto eu estou distante, vejo um carinha dando em cima de você?
— Ele não estava dando em cima de mim. — Justin aproxima seu rosto, deixa-o ao lado de minha orelha esquerda. Num tom baixo, diz:
— Eu não sou idiota. — e ri.
Empurro seu corpo com força, ele se afasta por conta do meu ato rude.
— Quer saber, não vou continuar esse assunto. Esqueça aquilo de não dormirmos brigados um com o outro.
— Não, você vai terminar essa conversa sim. — ele, pela terceira vez, agarra meu pulso e me puxa, só que, diferente das primeiras, eu sinto uma dor avulsa pregar à área onde seu contato físico permanece.
— Você é sim um idiota. — cuspo as palavras de maneira hostil, subindo meu rosto, arrebitando o nariz e dobrando meus ambos os lábios.
— É... Eu realmente devo ser... Afinal, eu não faço à mínima ideia do que você fica fazendo aqui enquanto estou viajando.
Isso soa tão ofensivo que minha boca se abre aos poucos. O contato visual não é cortado em segundo algum, eu estou ocupada demais o perguntando, mentalmente, por que acabara de dizer algo como isso.
— E-eu... — gaguejo, não sei o que respondê-lo. — Eu não acredito que você disse isso. — Justin me olha um pouco abatido, sua feição não é mais ameaçadora, ele parece se arrepender.
De repente, com a pouca sensatez que me resta, soco seu busto após livrar meus pulsos de suas mãos fortes. Meus punhos estão fechados, eu os aperto a cada vez mais, sinto meus olhos marejarem no mesmo segundo, minhas pernas bambeiam. Justin segura meus pulsos outra vez, jogando-os para cima, travando meu corpo à frente do seu. Ele me olha em silêncio, eu estou chorando, não posso evitar e soa de maneira tão alta.
Justin me empurra, eu caio sobre o sofá e sinto o choro se intensificar.
— Mamãe... — a voz de Sky me desperta, mas eu não a olho. — Por favor, não briguem. Papai, não brigue com ela. — ela implora. Hope chora alto, Sky tenta não fazer o mesmo, mas é impossível. Elas já estão na metade da escadaria.
— O que eu faço aqui? — pergunto mais para mim do que para Justin. Tento ignorar as meninas. — Todos os dias eu acordo cedo, dou comida às nossas filhas, levo-as à escolinha e passo o resto da tarde sozinha. Depois eu as busco, conto histórias a elas e as faço dormir. E à noite, eu te ligo e digo que te amo apenas para que não haja dúvidas sobre isso. É isso o que eu fico fazendo aqui enquanto você está viajando. Agora me diga, o que você faz lá? — me levanto rapidamente, o choro de Hope aumenta a cada segundo mais. — Você trabalha o dia inteiro, mas quando acaba, se tranca no quarto do hotel e fica o resto da noite jogando a droga do seu videogame? Porque é tudo o que você faz aqui quando chega... Ah, mas eu acho que isso é algo relativo, certo? — ele não responde, nem ao menos tenta me dizer algo a respeito de todas as coisas que ousei falar. — Eu não tenho amigos além dos seus, Justin, eu não faço nada além de tentar ser uma boa mulher para você.
— SABE O QUE EU FICO FAZENDO NA PORCARIA DOS MEUS DIAS? — ele grita, eu me assusto com a forma que me olha agora. Hope e Sky correm em nossa direção. Elas puxam a blusa de Justin, mas ele não tenta olhá-las, nem ao menos quer fazer isso. — EU ACORDO TODOS OS DIAS ÀS CINCO HORAS DA MANHÃ E SÓ CHEGO ÀS OITO DA NOITE. EU FICO TODOS OS DIAS ME MATANDO PARA PODER DAR DO MELHOR PARA VOCÊS E VOCÊ ESTÁ INSINUANDO QUE EU TE TRAIO? É ISSO? — não o respondo, não quero olhá-lo, por isso, encaro o chão por baixo de nós dois. — OLHE PARA MIM, SELENA. — exije, mas eu tento sair de sua frente, as garotas gritam assustadas.
— Mamãe... — Hope chora, ela abraça Sky logo em seguida.
Justin aperta meus braços, eu o olho agora.
— Olhe no fundo dos meus olhos e me responda... Você acha que eu te traio?
Demoro um pouco para responder. Mas, com um tom medonho, grito:
— EU NÃO DISSE ISSO! — apertando meus olhos e sentindo minha barriga doer, me controlo para não desabar agora.
— Eu sei muito bem o que você quis dizer. — Justin me solta, meu corpo cai no sofá outra vez.
Ele gira seus calcanhares e segue em direção à porta.
— Justin... — falo alto, eu sei que ele me ouve. — Justin! — tento outra vez, mas perco a voz quando o vejo abrir a porta e passar por ela sem se importar com meus chamados.
E eu vejo, como um flashback, a mesma cena de anos atrás, quando ele me deixou sozinha no meio da noite.
Descontrolada, eu desabo finalmente. As garotas correm em minha direção, seus bracinhos apertam meu corpo, elas me abraçam enquanto, também, choram.
— Mamãe, por favor, não chora. — Sky pede entre soluços, soa tão meigo. — Se você chorar, eu choro também.
— Tudo bem, fiquem calmas... — eu peço e passo as mãos sobre o rostinho de ambas as garotinhas. — Vai ficar tudo bem, ok? — tento sorrir, elas balançam a cabeça.
— Por que o papai saiu? — questiona-me Hope, jogando seu corpo em mim, me abraçando novamente.
— Papai só foi tomar um pouco de ar, minha princesa... Ele vai voltar depois. — seus dedinhos seguem em direção de minhas pálpebras inchadas pelo choro. Ela as limpa e eu vejo seus olhos brilharem devido às lágrimas presas. — Vocês estão com fome? Que tal pedirmos uma pizza? — tento amenizar a situação.
— Eu adoro pizza. — Sky diz já animada.
Elas correm até a cozinha, enquanto eu encaro a porta fechada, esperando que ele volte, mas ele não o faz. Portanto, sibilo alto, passo as costas de ambas as minhas mãos no rosto e respiro fundo, prendendo o choro no fundo mais distante de mim.
Sigo até a cozinha. Minha pequena lourinha está na ponta dos pés com o telefone em suas mãos, enquanto encara um ímã preso à geladeira. Nele há o número da melhor pizzaria do bairro.

Justin Bieber POV.
08h37min PM.
Antes de adentrar ao estabelecimento, encaro a rua um pouco vazia. Durante a trajetória, pensei em ligar para Ryan, mas hesitei quando pensei no quão estúpido fui por não ter esperado a notícia que ele planejava nos dar.
Meus passos sãos lentos, eu penso em voltar para casa, mas quando tenho a intenção de girar meu corpo e voltar para o lugar em que deixei meu carro estacionado, uma voz conhecida profere por meu nome. Eu engulo o seco e viro meu rosto à direita, tendo a visão de uma mesa ao lado da vidraça aberta. Eles estão sorrindo, eu só consigo coçar a nuca e me aproximar, mesmo tendo o pensamento de ir para casa segundo atrás.
— Quem é vivo sempre aparece. — a voz de Alfredo fala com uma pitada de animação, seu sorriso está largo, ele se levanta assim como os demais. — Que bom te ver, Justin.
— Quanto tempo, cara. — eu digo e forço um sorriso, resmungando baixinho logo depois de fazermos um toque antigo. Isso se repete quando cumprimento Dylan, Austin e Cody. Eu abraço Kylie, Kendall e Hailey, sentando-me, depois de alguns minutos, ao lado da única loura que há entre eles.
— Então, como vão as coisas? — Dylan ainda tem o mesmo tom fino de voz. Ele sempre foi zombado por isso.
— Está tudo bem... — eu não hesitei, pois não penso em falar sobre a briga a quão acabei de finalizar. — Mas e vocês? Como estão vocês? — eu me animo um pouco, vendo Kylie servir vinho em uma taça; ela entrega a mim.
— Nós viemos apenas para passeio mesmo. — Austin me responde enquanto abocanha a porção de batatas frita. — Telefonei para Kendall e ela propôs que nos encontrássemos.
— Mas confesso que não esperava vê-lo por aqui. — Kendall fala depois de dois segundos. — Fiquei surpresa quando Hailey me contou. — eu olho para a loura ao meu lado, a mesma sorri gentilmente e beberica seu vinho. Logo depois eu a sinto apoiar a mão vaga sobre minha perna. Minha respiração fica perturbada por sentir tal sensação sobre minha pele coberta pela calça jeans escura.
— Eu disse a eles que nos vimos em um mercado. — ela fala tentando reconfortar-me, enquanto repara minha feição incomodada. — Disse também que sua filha é a garota mais linda que já vi.
— Sky deve estar enorme. — Alfredo continua, eu apenas balanço a cabeça e bebo um pouco do vinho. Hailey aperta minha coxa e eu prendo a respiração um pouco, querendo relaxar. Mas devido às circunstâncias, eu apenas encaro os garotos.  
— Eu acho engraçado, sabe? — Cody diz algo, finalmente. — Justin sempre foi o mais sem vergonha do grupo, porém foi o primeiro a arrumar filho. — todos riem, mas eu não.
— A arrumar filho e a se casar. — Kylie fala humorada, eu sei que isso é apenas algo esportivo, não devo me incomodar com o assunto... Eu acho.
— Se eu soubesse sobre isso seis anos atrás, eu teria engravidado dele há muito tempo. — Hailey brinca, mas eu, num ato ágil, levo minha mão direita até a sua ainda sobre minha coxa e a retiro no mesmo segundo. Ela percebe que isso não me agradou nem um pouco.
— Tudo bem, vocês estão caindo na alma do cara hoje. — Alfredo ri e tenta finalizar o assunto. Eu sei que ele notou minha feição fechada. — Mas e a Selena? Como ela está? Eu realmente gostava dela. — Hailey desvia o olhar e encara a vidraça ao seu lado. — Me lembro de quando Sky começou a andar e nós competíamos por causa dela.
Eu me lembro. Jaden, Ryan, Chaz, Chris e Alfredo brigavam porque queriam que ela andasse até um deles. No final das contas, ela sempre vinha até mim.
— Hoje em dia essa menina está sabendo até de onde vêm os bebês. — todos gargalham, inclusive eu. — É sério, eu estou assustado. — brinco com a situação cômica.
— Eu espero ter filhos logo. — fala Kendall, ela serve mais um pouco de vinho em minha taça assim que a vê vazia. Eu virei a mesma sobre a boca e engoli rapidamente a bebida. — Esse trem de esperar até os trinta não está com nada. Não posso ser uma mãe tão velha.
— Nós podemos tentar. — Austin fala, há humor em seu tom de voz.
— Nunca. — a morena rebate e joga seus cabelos para o lado. — Eu quero um pai decente para o meu filho. Se fosse qualquer um, transaria com o primeiro punheteiro que visse na rua. — rio alto, os garotos também.
As horas foram se passando e quando deram onze e vinte, todos se levantaram.  Havíamos dividido a conta.
Quando saímos do Hibas e paramos à frente do mesmo, começamos a nos despedir. Quisera eu vê-los outra vez, mas tinha em mente que iriam voltar para Chicago brevemente. Outra reunião, provavelmente, seria demorada, eu não estava disposto a colocar tantas expectativas sobre isso. Porém, apesar disso, foi um bom passatempo, foi bom saber como anda a vida de todos eles. E, no final das contas, sobraram eu, Hailey, Kylie e Cody, porém o casal se distanciou, seguindo até um carro vermelho.
— Justin... — eu a olho rapidamente, virando meu rosto para trás, pois estava indo até meu carro do outro lado da rua. — Eu não quero ser inconveniente, mas você poderia me levar até o meu apartamento? — ela morde os lábios, aparenta estar envergonhada, eu não sei, não conheço essa expressão. — Eu pediria a Kylie, mas eu sei que ela pretende dar uma volta com o Cody. Não quero atrapalhá-los. — eu engulo o seco e penso, porém antes de responder, Hailey prossegue. — Mas se não puder, tudo bem, eu pego um táxi.
— Não, tudo bem, eu a levo. — ela sorri grata e caminha em minha direção. Atravessamos a rua e, quando dou por mim, nos noto dentro do meu carro abafado, devido ao tempo em que se mantivera fechado. — Você veio de táxi?
— Sim, meu carro foi rebocado essa manhã. — eu rio e ela também. Logo dou a partida. — Foi um pouco antes de nos encontrarmos no mercado. Eu fui descuidada e estacionei num local proibido. Verei o que posso fazer amanhã. — assinto com a cabeça e me mantenho em silêncio, presto atenção na estrada. — Você mudou muito, Justin.
— Mudei? — pergunto confuso.
— Mudou! — ela afirma rapidamente. — Está mais sério.
— Não. Hoje só não foi um dia tão bom.
— Vocês brigaram? — ela parece ler minha mente. — Pelo visto, isso não mudou em você. — Hailey ri, mas eu não. — Eu me lembro que sempre que brigávamos você corria para a rua.
— É. Tenho meus hábitos. Nem todos são bons. — debocho, a loura não parece se importar.
— À esquerda. — fala. Eu sigo a trajetória. — É tão bom vê-lo de novo, Justin. É bom saber como anda o cara que eu amo.
— Hailey! — suspiro, eu não quero entrar nesse assunto.
— Eu estou falando a verdade. — seu corpo se mexe por cima do banco. — Eu cheguei a pensar que nunca mais fosse te ver. Eu sei que você está com ela, mas o que eu sinto por você não mudou em nada. — eu a olho por alguns segundos, revezando a atenção à loura e à estrada. O que ela espera que eu diga? — É no próximo prédio. — balanço a cabeça e paro o carro quando alcanço o edifício dito por Hailey.
Antes de vê-la sair, ela me encara por dez segundos. Eu me sinto desconfortável, mas nada digo. E, antes de dizer tchau, Hailey retira o cinto e diz, numa voz fina e desejável:
— Se quiser, podemos subir e beber algo.
Eu concordo com a cabeça e vejo seu sorriso se alargar.
Descemos do carro e entramos no prédio amarelado.
Subimos o elevador calados. Eu encaro meus pés, enquanto minhas mãos estão dentro do bolso. O silêncio parece ruim, mas eu não sei o que dizer nesse momento.
Assim que as portas se abrem, andamos lentamente até o último apartamento. Eu notei que subimos cinco andares.
— Não repare a bagunça. — ela quebra o gelo entre nós. Sua mão direita recolhe as chaves dentro do bolso de sua calça justa, Hailey parece ansiosa por algo, pois eu noto que seu corpo está tremendo.
Quando vejo a porta se abrir aos poucos, encaro o apartamento, uma vez que eu esteja parado ao lado do batente.
— Pode entra. — sua voz é apossada por malícia, não está tão explícito, mas eu noto quando observo seus olhos claros; ambos apertados.
Dou um passo, mas antes de adentrar, meu corpo fica imóvel. Eu cogito algo que acaba me fazendo sentir horrível. E, logo depois, eu penso em Selena e em como eu a deixei sozinha. Penso no que pode acontecer, caso eu escolha ficar e só de imaginar isso, eu me sinto culpado, pois eu sei que uma parte de mim (a mais fraca), quer isso. Então, isso me faz seguir em direção às palavras que Hailey disse. “Pelo visto, isso não mudou em você”, não, mas eu estava disposto a mudar.
Durante todo o relacionamento que tive com Hailey, eu a traia quando a deixava sozinha após nossas brigas. E numa dessas vezes, eu tive a oportunidade de conhecer Selena. Eu só não posso deixar a mesma idiotice se repetir.
Eu não posso trair Selena.
Portanto, eu dou dois passos para trás e a olho firmemente.
— O que foi?  — ela questiona um pouco assustada.
— Hailey, não me procure mais. — eu sei que ela não havia feito tal coisa, mas falo, pois quero que ela saiba que não desejo vê-la outra vez. — Não confunda as coisas. — é minha última palavra, eu vejo seus olhos tremerem, ela só não quer passar por isso outra vez.
Sua boca se abre aos poucos, ambas as sobrancelhas levantam-se, mas eu só viro meu corpo, enfio minhas mãos para dentro do bolso e ando em direção ao elevador. Assim que me enfio para dentro do cubículo, subo meu olhar e vejo que ela ainda está parada em frente ao seu apartamento. Ela continua me olhando.
Rapidamente, as portas se fecham. Diferente da forma que eu vim, não encarei o chão como se algo de ruim me perturbasse. Eu apenas retirei meu celular do bolso e digitei algo. Sorrio feliz quando deslizo meu polegar na opção “enviar”. Logo depois, leio alto o que acabara de mandar para ela.

“Você é tudo o que importa para mim.”

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