30/06/2016

Capítulo 15.


Selena’s point of view.
Duas semanas depois.
Após abrir a porta, eu encaro sua feição morna, porém gentil. Delicadamente, desço meus olhos um pouco ao redor de seu corpo, notando, nitidamente, uma sacola branca em sua mão esquerda, uma vez que a direita apoia sua mochila jeans em seu ombro largo tampado, também, pela camiseta azul que traja essa tarde. Sem entender por que, Ryan me lança um sorriso e fecha seus olhos de uma maneira calma, passando segurança e, ao mesmo tempo, firmeza a mim, que agora, apoio minha mão direita sobre a barriga oval, maior do que a última vez que nos vimos.
— Justin não pôde vir, então me pediu para trazer sua torta de morango. — essa é a primeira coisa que Ryan me diz, sem nem ao menos se preocupar com a comum saudação. — Posso entrar?
— Claro, Ryan. — me curvo um pouco e vejo seu corpo passar ao lado do meu, que, nesse momento, dá um passo para trás após fechar a porta com total gentileza, quase como se a madeira pudesse quebrar em mil pedaços, caso fosse agredida. — Não precisava, de verdade. — rio com o fato de ter comentado ao Justin sobre a vontade de comer algo com morango. Eu não o pedi diretamente, mas ainda assim, ele arranjou uma forma de dar a mim.
— De boa, Sel. — responde o garoto. — Ele estava atrasado para ir à oficina e deixou isso comigo. Pediu para que eu trouxesse a você. — com sua mão vaga, ele a leva até os cabelos e coça sua nuca desnuda, sorrindo com aquela mesma feição engraçada e meiga.
— Obrigada. — eu recolho a sacola de sua mão e guio-nos à cozinha mediana.
Assim que guardo a torta dentro da geladeira, viro-me para o garoto e o vejo apoiado em um dos balcões sólidos da cor cinza.
— Sua barriga já está enorme, hein? — ri ele. — Em breve ele nasce, certo?
— Ah, sim, eu não vejo à hora. — aliso minha barriga e sorrio comigo mesma.
O garoto massageia seus lábios, torcendo-os com força, — agora sei que quer conversar, mas apesar de não saber sobre o assunto, acabo não desejando começar uma discussão, seja ela qual for.
Aleatoriamente, analiso todo o seu rosto e o encaro bem, da cabeça aos pés, parando, depois da minha pequena análise, meus olhos sobre os seus, em suas pupilas deveras mais claras que as minhas. Sua expressão é convertida, ele agora encara os lados e murmura:
— Você não pretende voltar?
— Não. — respondo sincera, ainda olhando para todo o seu corpo parado há pequenos centímetros do meu.
— Eu imagino que Justin tenha lhe dito coisas hostis, mas tenho certeza que foi por estar de cabeça quente. — assegura-me Ryan. — Sei que eu posso estar sendo ignorante, mas você vai mesmo deixar uma briga boba acabar com o começo de algo que pode se tornar grande?
— Não foi por uma briga boba, Ryan. — digo alto, porém não quero parecer rude, ele sabe disso. — É por algo maior do que isso. Apesar de não ter gostado das coisas que ele me disse, sei que eu sou a culpada pela briga. Eu a criei. Justin me disse que não queria que eu continuasse à par de uma relação entre os pais dele, eu estava ciente disso desde o começo, mesmo que isso seja algo considerado “bobo”. Mas não é por esse motivo que eu vim embora, não, não é. — levo minha língua ao céu da boca, enquanto respiro fundo e permaneço o fitando, já que agora, Ryan volta a me olhar. — Eu queria fazer algo para ele, compreende? Desde o começo, eu queria ter algo grande com o Justin, desde o momento em que ele me propôs tudo isso. Na hora eu fiquei “oh, meu Deus, Justin está me pedindo em casamento, nós vamos conseguir ter algo juntos”, mas agora eu vejo que ele fez isso porque estava se sentindo obrigado, carregando em suas costas, uma coisa que ele não precisava carregar. Ele não tem o dever de ficar comigo, Ryan, mesmo que eu esteja esperando um filho dele. Ele não tem essa obrigação, nunca teve. Na hora eu não percebi isso, eu pensei que eu realmente pudesse fazê-lo me amar, mas agora eu enxergo muito bem e vejo que amor não é uma coisa que você possa pedir a alguém. — sinto meu choro chegar, mas engulo o seco. — Eu não quero que ele fique comigo apenas porque acha que deve ficar.
— Não é bem assim, Selena.
— É claro que é! Ele estava com ela, Ryan, na primeira oportunidade, ele foi atrás dela. — Ryan arregala seus olhos e uma intensidade é criada entre nós dois. — Isso é o real motivo de eu ter ido embora, pois quando eu o liguei, eu ouvi a voz insuportável daquela garota. Da garota que ele gosta, enquanto eu estava em casa chorando, sentindo dor por nossa briga nomeada como “boba”. As coisas são mais difíceis para mim do que vocês possam entender. Vai bem mais além das suas compreensões. Eu tenho apenas dezesseis anos e sinto como se já estivesse velha, pois meu corpo parece exausto e minha mente aparenta carregar um turbilhão de coisas. — agora eu choro, mas sei que não é bem por causa do Justin, é por causa de tudo. Eu já sentia o choro preso há meses, mas não tive ninguém a quem mostrá-lo. Então, agora, eu me agarro à primeira oportunidade. — Ninguém está aqui para me ouvir, ninguém está aqui para me xingar ou gritar comigo, nem ao menos para me dizer que eu sou uma idiota por ter engravidado. — ele engole o seco, não sou capaz de entender o que se passa em sua cabeça. — Justin parecia a única pessoa ao meu lado, mas eu me enganei, nem ao menos ele foi capaz de me fazer sentir menos vazia. — fungo, apertando meus olhos e sentindo meu rosto se desmoronar. — Eu sei que você deve estar pensando que isso é um mero capricho meu ou que é mais um drama de uma garota, mas é o que eu sinto de verdade, eu me sinto péssima, mas ninguém é capaz de perguntar se eu estou bem.
— Eu não acho que isso seja drama. Pode tirar essa bobeira da sua cabeça. — eu arregalo meus olhos e o encaro no mesmo segundo. — Não deve ser fácil para você, eu nunca pensei que fosse, nem ao menos por um segundo eu pensei algo como isso. Apesar de não nos conhecermos bem, eu sei que isso é novo e difícil para você. Mas Justin está do seu lado. — responde.  
— Então, por que eu me sinto tão sozinha?
Ryan não me responde no mesmo segundo, é nesse momento que nos encaramos profundamente. Agora não sei mais o que dizê-lo. Sinto minhas lágrimas cessarem e, por essa razão, limpo as sobras com as costas das minhas mãos, cruzando-as de vez em quando.
— Selena, eu sei que você pode não acreditar no que eu vou te dizer, mas, ouça: ele gosta de você. Apesar de nunca tê-la dito isso antes, dá para notar, sacou? Demorou um pouco, talvez, mas veja só... — o garoto sorri e abre seus braços. — Ele foi até a minha casa hoje apenas para pedir que eu trouxesse algo a você. E ele parece diferente agora. Talvez ele esteja se sentindo culpado por tê-la dito coisas que te magoaram, mas também tem a possibilidade de ele realmente se importar com seus sentimentos. Você não tem que ficar pensando que ele, de alguma forma, ainda sente algo pela Hailey. Eu estava naquela festa, eu o vi chegar e o vi partir... Mas eu não o vi com ela. Essas coisas que você me disse... É quase como se você estivesse dizendo que deve carregar todo esse fardo sozinha. Você abriu mão de muita coisa, eu sei, mas agora terá que ser assim, não tem por que ficar se lamentando pelo leite derramado. Eu sei que ele vem mudando, Justin é meu melhor amigo, eu o conheço como a palma da minha mão. Ele poderia ter ido àquela festa e pegado a garota mais linda, assim como fizera com você, se lembra? Mas ele não o fez, porque ele estava pensando em você e teve até um momento em que ele sorriu encarando o nada.
— Ryan...!
— Bom, eu não vim aqui para mudar algo, eu só... Espero que vocês dois resolvam tudo isso.
(...)
Olho para o lado e vejo a porta ser aberta, revelando seu rosto claro às minhas vistas já embaçadas. Ele sorri de uma maneira meiga, como se eu fosse sua coisa favorita. Mas eu não sou capaz de me convencer sobre tal pensamento. Entretanto, retribuo com um sorriso fraco, porém preciso. Ele, por um lado, enruga o restante de seu rosto e atravessa a distância que há entre nós dois. Dessa vez, sem pensar muito, torço meus lábios, sentindo os meros rachados que há sobre eles. Também posso notar uma parte do colchão se afundar à frente de mim. Eu levanto minha atenção e o vejo de perto.
— Você parece triste hoje. — diz. Sua voz está coberta por insegurança. Pela primeira vez, não sinto como se fosse a única pessoa frágil existente em todo o mundo. — Aconteceu algo? — rapidamente nego com a cabeça e trato de sorrir de tal forma que o convença que estou bem.
— Eu só estou tentando terminar minha música. — Justin olha para minhas mãos e encara meu caderno rosa. — Estou à procura de uma palavra que rime com azul.
— Hm, como seria a frase?
— Mmm. — antes de respondê-lo, penso um pouco e novamente o olho. — “Por que o céu é azul?”
— Essa é a pergunta de hoje?
— Essa é a pergunta que eu faria a Deus. — Justin assente com a cabeça e sorri. — Acho que já te disse isso uma vez.
— Talvez tenha dito. Você me disse muitas coisas.
— É, eu sempre fui muito irritante.
— Não aja dessa forma. Odeio quando as pessoas forçam ser o que realmente não são.
— Eu não estou forçando.
— Sim, Selena, você está. — jogo o caderno longe, mas ainda assim, eu e Justin não quebramos o contato visual. — Não é algo simples, não é como se você pudesse repelir sua personalidade e moldar uma nova.
— A forma como eu só, só machuca a mim mesma. As pessoas sempre me deixam para trás. Essa é a lei de ser sempre tão boa. Estou cansada de viver num mundinho cor-de-rosa.
Eu tento entender a forma como ele me encara nesse momento. Há um tempo desde que eu resolvi tentar ser quem eu não sou e há um tempo desde que ele vem me visitar durante as noites. Conversamos por algum tempo e ele me espera dormir, é um pouco engraçado, mas me faz bem, muitas vezes ainda está aqui quando quero algo, ou quando, até mesmo, sinto dor. Talvez isso seja apenas uma forma de se redimir, ou talvez seja a forma de mostrar que vem sentindo coisas por mim. Só que eu não posso mentir para mim mesma. Talvez ele também nunca vá gostar de mim, não tanto quanto eu sinto que gosto dele
Então, Justin segura minhas mãos e as junta rapidamente.
— A Selena que eu conheci sorriria para mim e diria que as estrelas estão lindas essa noite.
— Eu ainda não as vi, mas sei que elas são apenas uma grande luminosa esfera.
 Não seja sem graça. — rio de sua resposta, pois me lembro de tê-lo dito algo assim.

— Em quem você pensa quando olha para o céu? 
— Não lhe responderei isso.
— Por quê? Eu penso em você quando olho para as estrelas. Elas podem mudar o futuro, sabia?
— As estrelas não podem mudar nosso futuro, Selena, elas são apenas uma grande luminosa esfera.
— Não seja sem graça.

— Bom, então como hoje também não haverá pergunta, eu tenho uma a te fazer.
— Qual é? — eu sorrio meiga.
— É desse sorriso que eu gosto. — rio baixinho, abaixando meu rosto e sentindo o rubor em minhas bochechas. O quarto ainda está escuro, mas posso vê-lo bem. A lua atravessa a janela fechada, ela me faz ver um brilho inexistente sobre os olhos do Justin. — Quer sair comigo hoje? Um encontro. — explica. — Nós não tivemos a chance de ter um, foi tudo muito rápido. Eu acho que quero fazer a coisa certa dessa vez. E eu estou disposto a fazê-la voltar para casa. Eu realmente sinto sua falta agora, e é como algo que eu nunca senti antes.
— Eu sempre quis que você me chamasse para sair. — confesso, totalmente envergonhada. — Então eu seria uma idiota caso dissesse não.

Justin’s point of view.
Eu abro a porta do carro e a vejo sair do mesmo, passando cada um de seus pés com certa delicadeza. Sua barriga está maior, ela faz tudo bem lentamente, mas ainda assim soa como se fosse a coisa mais importante de todas. Quando vejo Selena levantar sua cabeça e encarar a casa em sua frente, noto um semblante estranho apossado em seu rosto. Eu me pergunto qual é o problema, mas vejo que não encontro respostas. Entretanto, indago alto, alcanço sua atenção e, com uma voz rouca, questiono:
— O que foi?
— Ah, nada, mas... Você nos trouxe à “nossa” casa. — rio de sua resposta, eu já imaginava que algo assim fluiria de Selena. Sobretudo, bato a porta do carro e puxo sua mão, guiando-a até a parte de trás da imensa casa.
— Tudo bem, isso está nos meus planos. — respondo enquanto ainda estamos a caminho. Selena solta algumas risadas e tenta não tropeçar em seus próprios pés. Seria um problema caso o fizesse. — Cuidado. — digo quando vejo seu corpo cambalear.
Selena abre sua boca de uma maneira estranha, ela parece surpresa com o que ver ao pararmos de andar. Logo seus olhos refletem às luzes presas em alguns jarros de vidro. Eles iluminam o ambiente aberto que há por trás de nossa casa. Há, no centro de tudo, uma mesa com duas cadeiras à frente. Lembro-me de ter demorado bastante para preparar algo como isso, no entanto, orei para que ela não recusasse meu pedido. Podia haver alguma possibilidade de receber um “não”, pois essa é a palavra que ela mais vem me dizendo.
— Vem comigo? — pergunto, pois seu corpo parece rígido sobre a grama úmida.
— Isso tudo é para nós dois? — eu respondo apenas com um sinal positivo ao balançar a cabeça. Ela sorri, pois o lugar está tão iluminado, eu acho que é algo que refere aos seus gostos. — Eu adorei. — sua voz sai em um sussurro, eu gosto da maneira que ela me olha agora.
Com delicadeza, puxo sua mão outra vez e a guio até uma das cadeiras.
E assim, a noite se alonga, até eu fazê-la rir vinte vezes em um minuto, podendo ver todas as linhas invisíveis de seu rosto. Tendo, também, a oportunidade de pegar em suas mãos e alisar a pela por cima de seus ossos frágeis. Vi muitas vezes, seus olhos se fecharem e sua cabeça se levantar apenas para que, quando ela os abrisse, pudesse ver em primeiro lugar, as estrelas que cobrem o céu essa noite.
— Por que está fazendo isso tudo para mim? — eu demoro um pouco para responder, mas não que eu estivesse pensando em uma resposta, não, de fato não é. Eu a tenho, porém não sei como dizê-la. Por isso, balanço a cabeça e digo baixo:
— Eu já disse. Quero que volte para casa. — Selena relança um sorriso e permanece calada. Droga! — Mas não é apenas por isso.
Respire, Justin...
— Justin, você acha que vai ficar tudo bem com o bebê? — Selena não está me olhando, ela encara a mesa por baixo de suas mãos. Já havíamos terminado de comer há algum tempo. Foi algo que eu comprei essa tarde, justamente para agradá-la.
— Por que está perguntando isso?
— O médico me disse que talvez ele não sobreviva. Eu não quero que ele morra. — vejo seus olhos se inundarem, mas nada digo, passei a odiar vê-la chorar. — No começo eu queria, mas agora... Ele é importante para mim. — seu soluço me assusta, me faz reparar que agora não é um simples choro. — Se ele morrer, eu...
— Vai ficar tudo bem, Selena.
— Eu estou com medo.
— Ouça, quando chegar a hora, eu vou estar lá. — seu rosto se levanta e seus olhos se colidem com os meus. Sorrio, pois quero que ela se sinta melhor. — É uma promessa.

Algumas horas depois.
Nós caminhamos lado a lado, passando pela simples ponte de pedra que há entre o gramado de sua casa. Posso ver algumas luzes acesas, mas não é algo em que eu me prenda, apenas retiro-me do transe quando sinto Selena parar seus passos e virar seu corpo de frente ao meu. Ela parece pensar no que dizer, pois vejo sua boca se abrir várias e várias vezes antes de me dizer realmente o que tem em mente.
Apoio minhas duas mãos sobre seu rosto e o puxo para mim. Tenho a visão de seus lábios erguidos, inchadinhos e avermelhados. Seus olhos estão puxados e ela parece bem mais frágil agora. É por essa visão de Selena que me sinto atraído, talvez seja essa a imagem pela qual eu me apaixonei.
— Justin... — a garota sussurra por cima do meu rosto, antes mesmo de deixar-me beijá-la. — Eu não beijo no primeiro encontro. — por alguma razão, rio alto e nego com a cabeça, levando em consideração o fato de já termos nos beijados várias vezes, me levando de volta às duas noites em que transamos.
— E quando você beija?
— Talvez no segundo encontro. — responde ela, não me limito a parar de segurar seu rosto.
— Então, você quer sair comigo amanhã à noite?
— Eu quero, mas, acho que não sou tão boa nisso... Em beijar.
— Estranho, nunca conheci outra garota que beijasse tão bem. — agora ela gargalha e eu solto-a com delicadeza, passando minhas duas mãos por cima de sua barriga, sentindo a mesma ser revirada por dentro.
— Eu acho que ele gosta de você, pois sempre fica agitado ao ouvir sua voz.
— Eu gosto dele também. — sou sincero. — Agora posso responder àquela sua pergunta.
— Qual?
 “Em quem você pensa quando olha para o céu?” — assim que digo sua pergunta, ela reprime seus lábios e pisca algumas vezes, esperando minha resposta. — Eu penso em você, Selena, eu penso apenas em você.


“Eu estive pensando em você. Você pensa em mim ainda? Eu estive pensando sobre o nosso para sempre.” — Thinking About You

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