30/06/2016

Capítulo 14.

Justin’s point of view.
Ela entra no carro e eu vejo seu semblante triste por trás do vidro embaçado. O sol aparece, meu corpo se mantém fraco e a culpa está pregada em cada parte de mim, ao todo, sem poupar qualquer lado, nem o mais profundo de todos. Meu resto das partes, junto com meus olhos cansados e ardentes, imploram por uma boa noite de sono. Eu olho para o céu e encaro a imensidão azul por cima de nossas cabeças. Não digo nada ao dois à frente do hospital.
Uma vez que eu caminho até meu carro e sigo sem dizer nada, levo comigo a sensibilidade deixada por Selena.
Arranco minha camiseta e simplesmente tomo o longo banho. A água quente queima tanto a minha pele que a coceira sobre ela se torna real.
Chuto o vento quando vejo o jantar de ontem à noite jogado dentro da lixeira.
DROGA!  
Por que você não ficou com ela ontem?
Por que você a deixou sozinha?

Sinto-me melhor quando encaro o céu outra vez, pensando em como seria de agora em diante. E depois das duas da tarde, me sento no gramado verde, rodeado por vários livros, tanto grossos quanto finos. Alguns cadernos estão parados sobre meu corpo, canetas de diferentes cores jogadas pelo solo. Eu presto atenção em tudo em que leio.
Levanto minha atenção, levando minhas pupilas à altura máxima dos meus olhos. Observo sua caminhonete ser estacionada em frente à caixa de correio, pertinho de duas latas de lixo.
— E aí? — Ryan quase grita. Encaro minhas mãos sujas pela tinta da caneta preta, depois noto a existência de Chaz ao lado do loiro que permanece sorrindo alegre.
— Fala aí, gente. — digo risonho, mas a verdade é que nem ao menos sorrir posso fazer direito. Notando isso, ambos os garotos se entreolham e acabam com o sorriso normalizado que havia em seus lábios curvos. Eu, por outro lado, apoio os cadernos na grama e passo minhas mãos sobre a bermuda suja por rastros de borracha.
— Desde quando gosta de estudar? — pergunta Chaz, ele agora se senta à frente dos livros. Ryan apenas se agacha e recolhe um para si, encarando a capa escrita, em letras de fôrma, a palavra “física”.  
— Desde nunca. — prolifero nitidamente exausto. — Eu estou fazendo alguns trabalhos para a Selena. Não quero que ela perca o ano. — assim que bufo, os garotos se mantém em silêncio, a espera de mais alguma resposta vinda de mim. Aliás, não sei como continuar um assunto. — São muitos.
— Justin, eu disse que quando você precisar de ajuda é só me falar. — dessa vez, Ryan se esbanja, logo coloca o livro grosso por cima de muitos outros.
— Eu sei, irmão, e eu agradeço. —assim que o respondo, o mesmo nega com a cabeça e bufa altamente. Não compreendo.
— Isso significa que você também pode me pedir ajuda caso precise fazer trabalhos escolares para ajudá-la. — eu o olho no mesmo segundo, depois revezo minha atenção a ele e ao garoto ao seu lado, ambos sorriem. — Afinal, ela agora faz parte do bando.
— Bando? — questiona Chaz. — Nós somos algum tipo de cachorro?
— Lobos, Chaz, lobos. — responde Ryan. Que droga esse garoto está falando? — De qualquer forma, três cabeças pensam melhor do que uma.
— Ouçam, não precisa, sério mesmo. Eu dou meu jeito.
— Vai bancar o orgulhoso com a gente, cara? — olho para Chaz, o mesmo cruza seus braços enquanto Ryan pega uma caneta sobre o gramado. — Eu gosto da Selena, sem contar que eu sou o padrinho do Elliott.
— Justin, você pode, por favor, dizer a esse retardado que o padrinho da Sky sou eu?
— Porra, é Sky ou Elliott?
— Vocês só tão idiotas, sinceramente. — rio entre minha fala. Eles gargalham e logo pegam alguns livros deitados ao chão.  — Eu fico com inglês e matemática.
— Então o Chaz fica com física. — Ryan profere.
— Não, eu cuido do de geografia. — Chaz o diz.
— Então quem fica com o de física? — ele volta a proferir.
— Alfredo é bom em física. — falo do nada, abaixando meus olhos e pensando por algum tempo. Quando volto à órbita e encaro Ryan, o vejo apoiando seu celular no ombro, juntando-o com sua orelha esbranquiçada. — O que vai fazer?
— Vou ligar para que ele venha até aqui fazer esse trabalho de física.
— Sério, Ryan? — questiono-o.
— O seu problema é que você não gosta de pedir ajuda às pessoas, mas como eu não sou você, farei isso. — Ryan dá atenção à ligação e permanece assim por quase três minutos; quando termina, me lança um sorriso maldoso.
— Onde está a Selena? — eu olho para o moreno em minha frente, ele está segurando um caderno azul marinho.
— Ela não vai mais voltar, Chaz. — quando respondo, Ryan me encara no mesmo segundo, com uma expressão conturbada, tentando, de qualquer maneira, ler meus pensamentos, que agora machucam minha própria consciência. — Ela foi embora para a casa dos pais dela.
— Então, a briga foi feia mesmo, hein?  — ele pergunta notoriamente afetado.
— Sim. — enrugo meus lábios, reprimo meu rosto e torço meus músculos com apenas um movimento brusco. Ambos os garotos continuam me olhando. Eu engulo o seco ao sentir minha garganta inchar. — Eu gosto dela.
— Já experimentou dizer isso a ela? — dessa vez Ryan me pergunta, eu não posso olhá-lo, não ainda.
— Não consigo. — não minto, não consigo dizer a ela o que acho que sinto.
— Irmão, finja que está falando consigo mesmo. Finja que está na frente de um espelho e fala para ela, grita, mas não omite isso. A garota gosta de você. Diga a ela que gosta dela de volta. Não é difícil. — Chaz murmura. Ele sempre foi o mais sentimental, digamos.
Eu não sei dizer isso a ela, galera.
— E o que você fará? — Ryan parece realmente se importar.
Levanto meus olhos e pisco algumas vezes antes de sentir minhas juntas pesarem, lembrando que ainda não dormi. Então, simplesmente sorrio antes de rapidamente dizer aos dois:
— Vou trazê-la de volta.

Passamos à tarde juntos, não só Ryan, Chaz e eu, mas sim nós três e mais o resto do “bando”. Alfredo ficou encarregado de fazer o trabalho de física. Enquanto Ryan trabalhava na redação, Jaden resolvia os cálculos estequiométricos. Chris me ajudou em matemática, pude observar Chaz ter certa facilidade em geografia. Eu poderia beijar os pés de todos eles, mas nenhum deles precisa saber disso.
No final das contas, permaneceu apenas Ryan e eu.
Parados em frente à televisão, sobre o chão tampado pelo tapete vermelho, jogamos uma boa partida de poker.  
— Ganhei outra vez. — ele gaba-se e recolhe as notas de vinte espalhadas no chão. Perco cerca de sessenta dólares.  — Deveríamos parar por aqui, daqui a pouco eu te limpo, cara.
— Beleza. Acabou. — puxo minha garrafa do chão e beberico a cerveja, agora, fria. Olho para o tapete ao chão e me acomodo no mesmo, antes de perguntá-lo: — Você acha que eu devo ligar para ela?
— Se você quiser.
— E eu falarei o quê?
— Ué, pergunte a ela como ela está ou como foi o dia dela. — Ryan balança a cabeça e ri. — Cara, você já conversou com um milhão de garotas.
— Ela não é um milhão de garotas, Ryan, ela é A Garota. — termino minha bebida e deslizo meu celular contra o bolso. — Com a Hailey era bem mais fácil.
— Eu prefiro a Selena.
— Pensei que gostasse da Hailey.
— Não, Justin, eu suportava a Hailey. Não sou do tipo que implica com a namorada do melhor amigo. — ele pausa e recolhe suas coisas do chão, tais como: celular, dinheiro, chaves e cigarros. — Eu nunca quis arriscar nossa amizade por causa de uma garota.
— Você sabe que eu não te troco por namorada alguma, certo?
— Eu sei... E você sabe que isso ficou gay, certo?
— Ninguém precisa saber disso.
— Feito. — rimos juntos. Eu encaro o visor aceso do meu Iphone, procurando seu número, me segurando para não deslizar o indicador sobre. — Eu vou indo nessa. Ligue para ela logo. — anuo com a cabeça, sentindo meu coração latejar por dentro de todo o meu corpo. — Até amanhã, cara.
— Valeu, Ryan. Agradeça novamente os caras por mim.
— Beleza.
Eu não o acompanho.
Assim que ouço a porta ser fechada, conto por alguns segundos e simplesmente toco em seu nome por trás do visor chamativo. Quando vejo chamar, apoio o aparelho em minha orelha, ouvindo a ligação instantânea. Ao mesmo tempo em que eu quero que ela atenda, rezo para que não. Apesar de tudo, ainda me sinto culpado pelas coisas que a disse ontem. Quando eu vi seus olhos marejarem, não soube mais o que fazer, no entanto, simplesmente fugi como sempre faço.
— Oi. — sua voz fraca e fina diz. Eu fecho meus olhos por alguns minutos, permaneço encarando o escuro que há sobre minhas vistas cansadas.
— Oi, Sel. — mesmo eu não a vendo, quero pensar que Selena sorriu ao notar que está falando comigo. — Antes de qualquer coisa, como foi o seu dia? — engulo o seco, talvez seja uma boa forma de começar um assunto.
— Urgh. — ela grui de uma maneira estranha, penso que acabo de acordá-la. —Foi normal, Justin. — agora sei que está sorrindo, posso notar o timbre alegre na maneira como sua resposta soou. — E o seu?
— Foi bom. — assim que respondo, ficamos em silêncio, isso me estressa. Fala alguma coisa, Selena, pode me xingar, grita comigo, mas fala algo. — Selena?
— Justin... — ela sussurra. — Por que me ligou?
— Ah, é que eu... Eu quero saber qual e a pergunta de hoje.
 Não há mais perguntas, Justin. — fico em silêncio, não compreendo por quê. — Eu não quero mais fazê-las. Não quero mais ter tantas perguntas e nenhuma resposta. Mas... Por que me enganou? — dessa vez ela chora eu ouço sua voz ficar embaraçada.— Por que estava com ela, Justin?  — sem tempo para respondê-la, a ligação é cortada. Mas não fui eu, não fui eu que desliguei... Foi ela.  
Jogo meu celular na parede, vendo ele finalmente ser acabado.
Será que você não sabe ser homem o suficiente ao menos uma vez?

Jogo meu corpo na cama e olho para cima, observando apenas suas pequenas estrelas brilharem acima dos meus olhos. O vento adentra ao quarto, eu permaneço encarando tudo aquilo, me lembrando de como estava acostumado a dormir junto dos seus abraços por trás de mim, sentindo suas mãos finas e quentes rodearem meu corpo.
 Eu queria que você estivesse aqui.

Na manhã seguinte
Encaro a porta por alguns segundos, segurando firmemente minha mochila sobre o ombro direito, sentindo minhas pernas bambearem. Logo eu vejo seus olhos escuros me observarem, sua boca, de repente, se abre, mas não muito. Antes de dizer algo, levo minha atenção à barriga oval por baixo de seu vestido preto. Nosso bebê.
— Ei! — quando crio coragem, digo. Selena pisca rapidamente e responde:
— Oi. — lambo meus lábios, torcendo-os posteriormente. — O que faz aqui?
— Eu vim trazer seus picles. — eu rio sem jeito, tirando a mochila do meu ombro e abrindo-a rapidamente. Selena observa todos os meus movimentos, parece nervosa por estarmos tão próximos.
Quando eu mostro o pote de vidro, ela alarga um sorriso e eu finalmente me sinto melhor ao ver a primeira expressão em sua feição lisa.
— Posso entrar?
— Pode. — a garota arrasta-se para o lado e eu adentro sua casa. Sinto um cheiro tão dócil sobre as paredes banhadas por uma cor creme, nitidamente evidenciando o jeito calmo que ela tem. — Onde estão seus pais?
— Eles trabalham. Chegam por volta das nove. Você quer beber algo?
— Não, eu não vou ficar por muito tempo. Ainda tenho que ir para a oficina. — ela sorri quando explico, logo caminhamos em direção à cozinha, é um pouco menor do que a da nossa casa.
Selena abre o vidro límpido e recolhe um dos picles, abocanhando-o sem aguardar um segundo sequer. Pela primeira vez em toda a minha vida, não sei o que dizer a uma garota, portanto, permaneço em silêncio, assistindo-a sorrir enquanto saboreia o que tanto me pediu em uma de nossas manhãs. Mas a verdade é que minha presença não é justificada apenas nisso, eu fui capaz de arranjar um pretexto para pode vê-la hoje.
— Selena... — ela me olha e eu noto que sua boca está um pouco suja. Rio mesmo sem deixá-la saber o porquê. — Do que você estava falando ontem à noite? Quero dizer, eu não te enganei em nada.
— Você estava com ela...
— Ela quem?
— A Hailey, Justin. — ela passa suas mãos na barriga quando deixa de comer, parece satisfeita, ou talvez só esteja ficando estressada com o rumo que nossa conversa tomou. — Você estava com ela, eu sei que estava.
— Eu não estava com ela. — nego invicto.
— Sim, você estava. Eu liguei para você e ela me atendeu. Eu sei que era ela, eu não minto.
— Ouça, eu não sei como você conseguiu falar com ela, mas eu não estava com a Hailey àquela noite. Na verdade, eu até a vi, mas, bem... — peço e me aproximo, pegando em seu rosto e o levantando um pouco. — Eu não estava com ela.
— Me prove. — não é um mandato, compreendo.
— Eu não sei como te provar isso. Então, você terá que acreditar em mim. — sua boca agora está entreaberta, posso ver seus dois dentes superiores. Quero beijá-la, mas não o faço, apenas encaro seus olhos, uma vez que permaneço acolhendo seu rosto com minhas duas mãos mornas. — Por favor, volta para a nossa casa? Eu sinto sua falta e não faz tanto tempo desde que você me deixou.
— Eu não te deixei, você quem me deixou.
— Eu sei e eu sinto muito. — Selena sibila alto, não quero estressá-la em momento algum.
— Não voltarei, Justin. — ela responde com tanto desdém.
Nós caminhamos até a porta, ela segura a madeira enquanto me assisti sair de sua casa. Porém antes de ir embora, eu me viro e olho para seu rosto cansado. Quero que ela venha comigo, mas sei que não fará. Talvez Selena esteja pensando que tudo isso seja apenas um capricho meu, mas não é, não tanto quanto eu quero que seja. Eu realmente desejo que isso seja apenas a parte egoísta que há em mim, pois sei que não é saudável precisar das pessoas. Eu acabei me acostumando com ela, então acabo percebendo que eu vi a melhor garota do mundo partir, e doeu, doeu ver a melhor garota de todas ir embora.
— Eu farei de tudo para você voltar para mim. — sinto sua respiração pesar, não estamos tão perto, mas ainda sim posso notar como seu corpo reage à frente do meu. — Então, eu acho que teremos que voltar ao começo. — Selena me olha duvidosa, mas eu apenas rio.
Giro meu corpo com calma e, segundos depois, viro-me para ela novamente, esticando minha mão e esperando com que ela faça o mesmo.
— Oi, eu sou o Justin. — a garota gargalha e eu vejo a curva dos seus lábios da forma mais linda de todas. Seu braço é erguido e eu toco em seus dedos, puxando sua mão para cima e beijando as costas da mesma.
— Eu sou Selena. — responde-me.
— Eu sei. — Selena morde seus lábios e eu a olho por cima de sua mão direita, encarando profundamente o fundo de seus olhos. — Você não precisa ficar com vergonha.
— Não estou.
— Ah, não? Então por que eu posso ver o rubor em suas bochechas?
Ela não diz nada, tampouco eu... E é como se o silencio dissesse tudo.


“Forte o suficiente para lhe deixar, mas fraco o suficiente para lhe precisar.
Cuidadoso o suficiente para deixar você ir embora.”
— In Case

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